domingo, 5 de outubro de 2008

CAPÍTULO 1

– O QUÊ? – gritou Alice, que esqueceu que eles estavam em um dos restaurantes mais refinados da cidade.
– Alice eu sei que é difícil pra você, mas você tem que entender que pra mim as coisas estão mais confusas ainda, eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto.
– PERA AI, PRIMEIRO VOCÊ ME PROPÕEM EM CASAMENTO E AGORA VOCÊ DESFAZ O PEDIDO E AINDA TEM A CORAGEM DE DIZER QUE NÃO QUERIA QUE AS COISAS CHEGASSEM A ESSE PONTO, FAÇA-ME O FAVOR ANTÔNIO – ela não acreditava que aquilo estava acontecendo justo com ela, como ele podia ser tão cachorro,e com tinha coragem de olhá-la com aquela cara de cachorro sem dono.
– Alice está todo mundo olhando pra gente, para de gritar, por favor.
– DANE-SE, NÃO DOU A MININA PRO QUE ESSA GENTINHA PENSA OU DEIXA DE PENSAR, VOCÊ É UM CACHORRO SEM VERGONHA QUE NÃO DÁ A MÍNIMA PROS MEUS SENTIMENTOS, MAS ESTÁ TODO PREOCUPADINHO COM O QUE OS OUTROS VÃO PENSAR.
– É claro que eu me preocupo com você Alice, é justamente por isso que estou retirando o pedido de casamento, eu não te amo mais, isso é fato, estaria me torturando e te magoaria muito mais, eu não quero ser infeliz, muito menos fazer você sofrer – Antônio já não sabia mais o que falar, colocou as mãos na cabeça e se abaixou na mesa, uma coisa era verdade, ele também estava sofrendo muito com essa situação.
– Ah Antônio! Como isso foi acontecer, como eu não percebi isso antes, como pude ser tão idiota, logo eu que sempre critiquei o tipo bobona apaixonada, acabei me tornando uma e nem percebi o nosso relacionamento desmoronar – a raiva deu lugar ao desespero e a culpa como tudo podia estar acontecendo , quatro anos de relacionamento, ela sabia que as coisas já não eram como antes, mas sempre pensou que isso era normal em todos os namoros, e além do mais ele havia pedido ela em casamento, como poderia imaginar que isso ia acontecer, não aguentou, descarregou todas as lágrimas que segurava desde o inicio na conversa.
– Eu sinto muito Alice.
– Como a gente foi deixar isso acontecer Antônio? Eu não sei o que fazer agora já não te culpo mais, por que boa parte da culpa também é minha que não percebi nada, mas acontece que eu ainda te amo e não consigo imaginar a minha vida sem você, o que eu vou fazer agora? – chorando.
– Agora você vai seguir sua vida e eu vou seguir a minha, é melhor a gente não se ver por um tempo, vai ser melhor assim. Você é uma arquiteta bem sucedida vai continuar seu trabalho, logo vai conhecer outra pessoa, eu sei que é doloroso, mas tem que ser assim Alice.
– Eu preciso ir embora Antônio, eu preciso pensar ver o que vou fazer daqui pra frente – eufórica Alice pega sua bolsa e se levanta.
– Calma Alice, eu levo você pra casa, você ainda está muito abalada.
– Não, eu vou ficar bem, e não pretendo ir para casa, vou dar uma volta por ai, pensar um pouco, estou muito confusa, mas eu vou ficar bem, não precisa se preocupar.
– Tem certeza?
– Tenho – disse forçando um sorriso saiu do restaurando deixando Antônio lá, parado como se fosse uma estátua do museu de cera.


Alice nem se deu conta pra onde ia e nem a quanto tempo andava, só tinha a impressão que andava a muito tempo pois suas pernas já doíam, se deparou com um parque e na mesma hora reconheceu o lugar, passava por ali todos os dias a caminho do trabalho mas nunca havia entrado no parque e decidiu que hoje seria o dia, embora seu lado medroso achasse que não era um boa idéia por que já passava das 11 da noite, mesmo assim resolveu arriscar, mas quando chegou mais perto viu que os portões estavam fechados, ela recuou decidida a voltar pra casa,no mesmo instante se deu conta de que não podia voltar para casa, sua geladeira tinha dois potes de sorvete e seu regime ia por água abaixo.
– Droga! Vocês ai de cima estão dificultando as coisas hoje hein – disse olhando pro céu – Mas as coisas não podem piorar, vou pular o portão! – disse sorrindo, pela primeira vez naquela noite o sorriso era verdadeiro.
Mas uma vez seu lado medroso mandou uma mensagem dizendo que aquilo não era uma boa idéia, o que iam pensar ao ver uma mulher de 27 anos com roupas de grife pendurada em um portão.
– Dane-se, o máximo que podem pensar é que eu sou uma drogada desesperada a procura de seu fornecedor.
Alice pulou o portão sem maiores dificuldades e em segundos estava dentro do parque, sentiu uma sensação que não sabia explicar, só sabia que fazia muito tempo que não sentia nada parecido.
Caminhou durante algum tempo, era começo da primavera e o parque estava lotado de flores de todos os timos, um aroma indescritível pairava sobre a atmosfera, estava tudo tão calma, uma tranqüilidade inimaginável ali no meio daquela metrópole, Alice logo se cansou, também fazia tanto tempo que não andava uma certa distancia a pé, sentou no primeiro banco de cimento que encontrou.
– Nossa como é desconfortável esse banco – e começou a chorar.
Não se sabe quanto tempo Alice ficou ali sentada chorando desesperadamente, se sentia tão frágil, tão sozinha.
– Oi!Você não me parece muito bem – Alice ouviu uma voz alegre dizer.
Alice levou um susto tão grande que em menos de um segundo já estava de pé olhando para o desconhecido.
– Olha seu ladrão eu não ando com dinheiro, mas se você quiser a gente pode ir ali ao caixa eletrônico e eu te dou tudo o que eu tenho apesar de me sentir uma inútil solitária nesse momento, eu ainda acho que sou muito jovem pra morrer – Alice não acreditava no que estava acontecendo, só faltava isso mesmo pra noite ficar completa, um assaltante, muito do bonito por sinal, lhe tirar a vida.
– Eu não sou um ladrão, de onde você tirou essa idéia! – disse o homem fingindo estar ofendido.
– Não é? E o que um homem que diz que não é um bandido faz em um parque com os portões fechados depois da 1 da manhã?
– Então você uma bandida.
–Eu? Claro que não, você enlouqueceu?
– Eu vou muito bem mentalmente viu, é que você deduziu que sou um bandido então também estou deduzindo que você é uma bandida, já que deve ter pulado o portão para entrar aqui.
Alice se rendeu:
– Olha me desculpa, é que a noite não foi muito boa, eu fui jant...
– Eu não quero saber como foi sua noite, eu não quero saber o que o canalha que te deixou disse ou deixou de dizer, eu estou aqui pra fazer você esquecer essa noite, melhor, parte dela por que ainda quero que você se lembre de mim, sua vida irá tomar um rumo diferente, você terá experiência maravilhosas.
Alice sabia que aquilo poderia terminar muito mal, mas de alguma forma se sentia tão envolvida com aquele estranho, talvez por que estava frágil, tinha acabado de tomar um pé na bunda, mas ela se sentia tão bem na presença daquele estranho, teria ficado horas apreciando aquele sorriso.
– Como você vai mudar a minha vida, você não me conhece, não sabe nada ao meu respeito, acho melhor eu ir embora– continuo no mesmo lugar sem mexer um músculo sequer.
–É talvez seja melhor você ir embora agora, você está muito cansada, mas a gente vai voltar a se ver, iremos viver muitas coisas juntos, eu vou te fazer feliz como nenhum homem jamais foi capaz de fazê-la.
O desconhecido se sentou ao lado de Alice, pegou as suas mãos, colocou em seus ombros, foi se aproximando bem devagar, o tempo estava em câmera lenta para Alice, como queria ficar ali pra sempre, não escutava nada ao redor somente sua respiração ofegante e a do desconhecido, ao fina ele a beijou um beijo tão intenso e romântico que deixou Alice zonza – Que sensação era aquela, pensava – Quando os dois finalmente se separaram, ele disse:
– Miguel.
_ Alice.